TURISMO EM JERI. O HISTÓRICO DESAFIO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM JERICOACOARA

09/07/2017 13:14

A projeção de aumento do fluxo turístico com o Aeroporto Regional de Jericoacoara restabelece o debate sobre os impactos ambientais na região. Um plano de mitigação de danos está em elaboração, mas o turismo se amplia, entre ganhos e perdas, desde a década de 1980.

Quem está de passagem pela vila de Jericoacoara só vê a dimensão do bonito, do paraíso vendido nas agências de viagens. O pôr do sol no oceano, o caminho entre dunas, a paisagem das águas, entre outras características naturais, atraem de 500 mil a 600 mil turistas por ano, informa a Secretaria do Turismo do Ceará (Setur). Uma média de visitantes que deve chegar a dez mil por mês, ao longo dos próximos três anos, com a implantação do Aeroporto Regional de Jericoacoara — projeta a Setur.

O aumento do fluxo turístico em 20%, até 2020, guia um antigo debate sobre os impactos ambientais na região. A especulação imobiliária e as invasões à natureza nativa, agressões diretas à biodiversidade, desconfiguram a vila original de pescadores desde 1985, quando o turismo alcançou Jericoacoara. “E a tendência (com o aumento da demanda turística) é tirar as áreas verdes e dar espaço para empreendimentos”, sinaliza o ambientalista Tiago Silva Bezerra, ex-gestor da Área de Proteção Ambiental (APA) da Lagoa de Jijoca.

A vila é uma ilha cercada pelo Parque Nacional (Parna) de Jericoacoara, resguardado por lei federal, atentam os especialistas ouvidos pelo O POVO. “Aí surge um segundo problema, que é o descontrole do fluxo de veículos dentro do parque”, assinala o professor Jeovah Meireles, do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Ceará (UFC). Além de orientar dissertações sobre o tema, o professor coordenou uma pesquisa, entre 2009 e 2010, sobre o uso público do Parque Nacional de Jericoacoara. E atestou: já naquela época, o tráfego no parque “produzia o pisoteio e compactação em 35% da sua área”. Leia-se ainda: lagoas eram fragmentadas pelas trilhas.

“Esse tipo de incremento do fluxo de turistas, quando o controle não é eficaz a partir dos portais de entrada, dos picos de visitas”, une Meireles, “gera uma sequência mais complicada de impactos que vão se acumulando, com interferência na fragmentação dos ecossistemas, contaminação do lençol freático pelo excesso dos afluentes (extração de água e esgotamento sanitário), aumento da produção de lixo...”.

A geração de resíduos sólidos e líquidos é um dos problemas cruciais, concordam os pesquisadores. A maior parte dos estabelecimentos de Jericoacoara, alerta Tiago Bezerra, “tem poços profundos não outorgados pela Cogerh. E o sistema de esgotamento sanitário fica subdimensionado”. Já a falta de uma coleta seletiva efetiva produz um lixão atrás do outro, conclui o ambientalista: “Jijoca de Jericoacoara, em 25 anos de gestão (é município autônomo desde 1991), já construiu em torno de oito, nove lixões. É um lixão a cada três anos”.

Outras dimensões

O crescimento econômico, possibilitado pela atividade turística, e a sustentabilidade dos recursos próprios travam uma queda de braços na vida dos paraísos naturais. Um equipamento como o aeroporto de Jericoacoara “vai alavancar a principal atividade da região, o turismo, com impactos positivos sobre os indicadores econômicos”, considera o professor Roberto Pinto, coordenador do Laboratório de Gestão de Pessoas e Sustentabilidade da Universidade Estadual do Ceará (Uece).

“Mas as outras dimensões causam preocupação se não receberem atenção, cuidado e projetos. É preciso ficar atento e se antecipar à ocorrência de problemas sociais, ambientais e culturais”, contrapõe. Segurança, assistência social e à saúde, além de mais educação e saneamento, ele aponta, devem também fazer parte do plano de mitigação de danos para a região. O conceito e a prática de desenvolvimento sustentável são tão complexos quanto a vida de um lugar — seja a vida de planta, bicho, rio ou gente.

“Jericoacoara deixou de ser uma vila de pescadores para ser uma vila de pousadas”, observa Jeovah Meireles. Os habitantes nativos, ele dimensiona nos estudos que coordenou, venderam casas e terrenos a estrangeiros. Mudaram-se para as bordas do parque, alguns se tornaram invasores em áreas de proteção ambiental e, hoje, “estão invisíveis”, dialoga Tiago Bezerra.

NÚMEROS

17.002

pessoas é a população total de Jijoca de Jericoacoara (Censo IBGE 2010)

2.500 a 3 mil

pessoas é a estimativa, de especialistas, para a população residente na vila de Jericoacoara

SAIBA MAIS

O Parque Nacional (Parna) de Jericoacoara tem área de 8.850 hectares (lei 11.486/2007). Os municípios de Jijoca de Jericoacoara (com mais de 60% da área do parque) e Cruz são a parte terrestre da Unidade de Conservação; outra parte (25,97%) corresponde à Área de Marinha. A Zona de Amortecimento do Parque inclui terras de Acaraú e Camocim. Os dados são do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, gestor do local.

A riqueza do Parna de Jericoacoara, cita o professor Jeovah Meireles, é “a peculiaridade do conjunto de ecossistemas e geossistemas, com dunas de alto porte, além de ser um local de reprodução das aves endêmicas e de tartarugas”. As dunas, ele destaca, servem a pesquisas sobre mudanças climáticas e nível do mar.

A vila de Jericoacoara concentra a pressão do turismo desde 1985, quando a isolada aldeia de pescadores foi descoberta por visitantes. A praia, a Duna do Pôr do Sol e Pedra Furada são alguns atrativos.

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